Wednesday, November 30, 2011

A gestão do caos II

Há muito tempo que Portugal vai mal. Mal dirigido. Poucos se importam com a condução, enquanto os financiadores do país forem fornecendo liquidez.

Estes são exemplos contraditórios:

1. Grande parte do desperdício no Serviço Nacional de Saúde é da responsabilidade dos médicos. Esta é pelo menos a convição do presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida - ele próprio um médico. Miguel Oliveira e Silva diz que os clínicos portugueses receitam demais, pedem exames a mais e, muitas vezes, fazem-no por causa de interesses comerciais.

2. Uma norma da Direção Geral de Saúde (DGS) sobre a utilização clínica de antipsicóticos está a gerar contestação junto de alguns psiquiatras. «Esta norma tem em vista um critério economicista. Os doentes respondem de forma diversa aos antipsicóticos e as respostas têm de ser dadas caso a caso. Parte-se do princípio de que um médico é uma pessoa de bem, mas, de qualquer modo, as prescrições podem ser investigadas e fiscalizadas. Isso já existe».

Evidentemente que há desperdício. Há desperdício, porque há recursos para se gastarem em desperdícios. Não há melhor forma de se fazerem reformas do que fechar a torneira do dinheiro. Os portugueses, quer sejam os doentes, quer sejam os prestadores de serviços de saúde, têm a memória curta. Pior, julgam que Portugal gera a riqueza suficiente para dar a qualidade de vida superior que pretendem obter. Estão enganados. A mudança vai acelerar. E muito.

Sunday, November 27, 2011

Portugal de joelhos - 2

Quando a má fama ultrapassa fronteiras, as reacções são em cadeia:

  1. Os hospitais com dívidas estão a ser forçados a cumprir novas regras para continuar a receber medicamentos dos laboratórios.
  2. As empresas farmacêuticas exigem que seja fixado um plano de pagamento a prestações da dívida ou só admitem fornecer uma nova remessa de medicamentos quando a factura anterior estiver saldada.
  3. Alguns laboratórios não estão dispostos a esperar pelo prometido plano de pagamento da dívida dos hospitais aos fornecedores e decidiram avançar para medidas por conta própria.
Isto é fantástico, pois o que acontece neste momento ao Estado português (quem será o Estado português?), costuma acontecer a qualquer indivíduo ou instituição que não cumpre com as suas obrigações. E quando não se cumpre à primeira, nem à segunda, nem à terceira, já ninguém acredita em promessas vãs: O Governo promete apresentar um calendário de regularização de dívidas a fornecedores até ao final do ano, mas, enquanto isso, o problema agrava-se com o aumento dos débitos dos hospitais que, em Outubro, ultrapassava os 1,3 mil milhões de euros e da demora no pagamento (média de 450 dias de atraso).

Ou seja, estamos declaradamente em bancarrota, ainda que tudo continue na mesma, o Senhor Presidente da República diz mal das instituições europeias, uma boa parte da classe política diz mal dos credores e ainda financiadores de Portugal, e uma grande parte dos portugueses ainda não percebeu o que se passa. De si próprio, ninguém diz mal.

É sempre melhor ver a culpa nos outros.

Thursday, November 24, 2011

Artérias

Boston Scientific Inc. has received U.S. approval to launch its latest drug-coated stent for patients with clogged arteries, a key milestone that is expected to increase profitability for the medical device maker. Stents are mesh-metal tubes used to prop open arteries after they have been cleared of dangerous fatty plaque deposits. Stents are threaded into the artery on the tip of a catheter and then squeezed into place using an inflatable balloon. The device's drug coating is designed to prevent scar tissue from growing over the stent and reclogging the artery.

Sunday, November 20, 2011

Portugal de joelhos

De 3 em 3 meses, Portugal é objecto de avaliação por parte dos seus credores, mais conhecidos como Tróika. Ou seja, formalmente, Portugal tem um Presidente da República, um Parlamento eleito e um governo executivo. Na prática, Portugal é dirigido pelos funcionários da UE, BCE e FMI. Ou seja, os poderes democráticos, associados ao poder financeiro nacional, já não mandam em Portugal.

Noutros domínios se verifica a diminuição de Portugal no cenário internacional, sendo este só mais um pequeno detalhe de completa incúria dos interesses de Portugal: A farmacêutica Roche anunciou hoje que vai alterar a sua política de crédito, a partir de dezembro, junto de cinco hospitais portugueses com dívidas acumuladas há mais de 750 dias.

Prazos de pagamento de 750 dias? Como? Portugal está de joelhos, não por causa da Tróika, mas por culpa própria. O que os suíços da Roche estão a afirmar na cena internacional é que Portugal não é um país honrado, nem um país em quem se pode confiar. E se não se pode confiar, não se pode fiar.

Coitados dos portugueses que estejam doentes, e precisem dos medicamentos da Roche, pois a partir de agora, essa farmacêutica vai restringir o acesso dos seus medicamentos em Portugal. Por agora em 5 hospitais. Daqui a pouco tempo, a todos os hospitais.

Portugal não se consegue corrigir.

Wednesday, November 16, 2011

Finalmente a verdade

Já fomos por aqui escrevendo sobre a "não falta de médicos em Portugal". Bastava ir aos hospitais centrais de Lisboa (Santa Maria, São José, Egas Moniz, etc.), do Porto (Santo António ou São João), e Coimbra (Hospitais da Universidade de Coimbra), para se avaliar que haviam médicos a mais, a passearem-se pelos corredores, e muitos, a dormirem nos chamados "bancos de 48 horas".

Pois, finalmente alguém que tenta gerir o SNS chega a esta conclusão: Paulo Macedo afirmou hoje que existem mil médicos especialistas a mais nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Claro está, que faltam médicos em Alcoutim, em Sernancelhe, em Arganil ou em Castro Verde. Porque será que os médicos que existem a mais no Hospital de Santa Maria, não quererão ir para Celorico da Beira, por exemplo?

Sunday, November 13, 2011

Quitting is hard

More than two-thirds of American smokers say they want to quit but only a fraction actually do, according to a government report released Thursday, suggesting people would benefit from more help in kicking the habit. Of the nearly 69% of adult smokers who wanted to quit in 2010, more than half tried but only 6.2% succeeded, according to the Centers for Disease Control and Prevention. Those who try can double or triple their chances with counseling or medicine, but most of those who tried to quit last year didn't use either. Nor did they receive advice to quit from a doctor.

Wednesday, November 09, 2011

It's the economy, stupid

Bill Clinton, ex-Presidente dos EUA deixou esta célebre frase: it's the economy, stupid.

Isto é a economia estúpida: O mercado farmacêutico registou uma quebra no volume de vendas de 13,4% em Outubro, face ao mesmo mês do ano passado, somando 261,1 milhões de euros em vendas de medicamentos.

Pois é, antes gastava-se em medicamentos, o que se queria, o que não se queria e mais o que nos prescreviam, e nós nem queríamos.

Mas, às vezes a economia portuguesa consegue ser mais estúpida ainda: O valor de vendas no segmento dos medicamentos genéricos caiu 15,3%, uma quebra superior à do mercado farmacêutico.

Será que os medicamentos genéricos são mais dispensáveis? Ou será que os medicamentos genéricos são mais baratos e menos inovadores, e por isso perderam parte do mercado?

Mas, esta é a nova economia real: os encargos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com medicamentos vendidos nas farmácias em Outubro foram, segundo estimativas - os valores finais da despesa do SNS serão ajustados após encerramento do receituário de Outubro, que ainda não está concluído - 102,5 milhões de euros, o que corresponde a uma quebra de 20,4% face ao período homólogo.

Wednesday, November 02, 2011

Ligações perigosas V

Vivemos na "era Maddoff". A era em que a ganancia é tremenda. A era em que todos querem ser muito ricos. Mesmo aqueles que não são muito ricos, e percebem que nunca conseguirão vir a se-lo, fazem coisas destas:
  • Oitocentos e dois mil euros foi a despesa dos técnicos da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) em deslocações em serviço no estrangeiro durante 2010 e entre Janeiro a Setembro de 2011, segundo informações da base de dados do Governo.
  • Os destinos dos colaboradores daquele organismo variam entre Cabo Verde, Malásia, Índia, Estados Unidos da América, Brasil, Guatemala e várias cidades europeias.
Claro que se pode alegar sempre que há Conferencias sobre temáticas relevantes na Guatemala e em Cabo Verde. Aliás, estes países reunem muita da nata científica mundial, junto a uma cabana!

Num país em que tudo é nivelado pelo salário mínimo nacional, de 485 euros mensais, isto é estrondoso: Uma formação em Londres, para dois participantes, durante cinco dias, custou 2699 euros.

Pior, isto revela uma mentalidade tacanha e pouco escrupulosa: O Infarmed salienta que o "valor despendido na maioria das deslocações em serviço é reembolsado ao Infarmed pelas entidades que as promovem". Ou seja, a entidade reguladora da farmácia e do medicamento anda a pôr os seus técnicos a viajar, e as despesas inerentes serão pagas pelos laboratórios farmacêuticos? Para nós isto tem um nome, mas deverão ser as entidades que exercem a auditoria sobre o Infarmed (Ministério da Saúde?) é que deverão chegar a conclusões!