Há mais de dez anos que se vem falando e escrevendo que há falta de médicos, sobretudo se for levado em conta que há a previsibilidade de muitos médicos se virem a reformar na próxima década. Pouco se fez, para além da abertura de duas pequenas faculdades de medicina (Beira Interior e Minho).
Mais, o mercado acabou por procurar alternativas, quer através da "importação" de médicos estrangeiros (de Espanha, América Latina e do Leste da Europa), quer através da busca de cursos realizados em Espanha e República Checa.
O Ministério do Ensino Superior pouco fez. O Ministério da Saúde nada fez. Agora, o problema está à vista de todos, mas pouco se continua a fazer:
- "Temos sete médicos por equipa de urgência para fazer seis mil partos por ano", avançou ao DN Jorge Branco, presidente do Conselho de Administração da Maternidade Alfredo da Costa (MAC).
- Jorge Branco reconhece o aumento da carência de médicos para as urgências, numa maternidade "que faz praticamente cem consultas por dia". A difícil gestão das equipas ainda "não teve repercussão até agora no desenvolvimento do trabalho, porque os médicos têm aceitado fazer horas extraordinárias", reconhece.
- Uma das consequências para os médicos da MAC é semelhante à traçada por outros hospitais citados no texto em cima. Os turnos avolumam-se e o tempo de trabalho vai expandindo. A dimensão dos turnos? "São de 24 horas. Não temos pessoas suficientes para fazer turnos de doze como antes. Isso seria a situação desejável, mas não é possível", lamenta Jorge Branco.
- Muitos médicos atingiram a idade de aposentação ou deixam de fazer urgências. Aos 50 anos, um médico pode deixar de fazer urgência nocturna e, aos 55, fica oficialmente dispensado de fazer urgência. "Muitos dos nossos médicos atingiram a idade de aposentação. Este ano já perdemos um chefe de equipa e calculo que vão sair mais quatro pessoas. E é preciso lembrar que todos estes médicos levam consigo uma grande experiência", acrescenta.
- A saída para os privados, já muito referida, também levou alguns profissionais da maternidade lisboeta. "Os internos recém--formados e que acabaram há um mês, eram quatro: dois saíram e dois apenas ficaram a tempo parcial." Estes médicos optaram por trabalhar no sector privado, tal como outros médicos desta instituição.
Notas nossas: 1) Não gostamos de ser observados por médicos com mais de 12 horas seguidas de trabalho desenvolvido; 2) Será que o Ministério da Saúde ainda não percebeu que a atractividade do trabalho médico é pequena no sector público da saúde (pelo menos para os médicos mais ambiciosos)?