Em tempos de dificuldades de uma nação em completo desvario, não é fácil ser-se popular, e onde até seria mais fácil ser-se populista: Paulo Macedo consegue mais do que não ser extremamente impopular enquanto desbasta centenas de milhões de euros em despesa com Saúde - consegue a adulação quase unânime de editorialistas e de líderes de opinião que, mesmo sem saberem o que realmente se passa na Saúde.
E porquê? Porque há aquilo que comummente se chama de bom senso: Paulo Macedo é um executivo rodeado por uma equipa que, em contraste atroz com o que se passa em tutelas como as Finanças, sabe gerir a mensagem e a comunicação.
E mais: 1) o ministro neutralizou de imediato o lóbi que mais problemas lhe poderia causar: os médicos. Um aumento salarial encapotado em tempo de crise profunda tem chegado para comprar a paz; 2) A desintegração do outro lóbi problemático, o das farmácias (muito devido à saída do perigoso e eficaz João Cordeiro), foi um bónus inesperado; 3) Relativamente liberto das corporações mais pesadas (e adiando a polémica reestruturação da rede de saúde para depois das autárquicas), Macedo colocou a maior parte do peso do ajustamento na Saúde em dois alvos fáceis: a indústria farmacêutica e os doentes; 4) De que se fala quando se fala em racionar? Fala-se em ter quotas apertadas para a prescrição de medicamentos melhores e mais caros em patologias dispendiosas (como a diabetes e o cancro), fala-se em quotas para o número de cesarianas (cada vez mais decididas como último recurso), fala-se em comparar médicos pelo que prescrevem e não pelos resultados, fala-se em escolher quem se trata - fala-se, no fundo, de gerir muitas vezes ao arrepio dos melhores interesses dos doentes, sem que estes o saibam.
Num país, em que quem tem desempenhado funções governativas e de dirigentes da administração pública, não tem a mínima noção da gestão de um casebre de gado, parece que ainda há alguém com capacidade e discernimento para conduzir um barco à beira de se despedaçar.
Avé, César!