Não. Não são parabéns à Dra. Jorge. Essa não os merece. Mas, o Ministro Gago merece, pelo menos por este ataque às corporações: O ministro da Ciência e do Ensino Superior acusou este sábado o Parlamento de ceder aos interesses corporativos das ordens profissionais, dizendo que estas organizações apenas pretendem "canibalizar" e "controlar" o acesso ao mercado de trabalho.
Ora, quem são os destinatários desta mensagem? Primeiro, e antes de mais, a Ordem dos Médicos, essa organização que consegue dominar o Estado, vá-se lá saber porquê! Claro que outras Ordens estarão também "no alvo", como se percebe por esta reacção: O bastonário dos advogados, Marinho Pinto, classificou de "impróprias de um membro do Governo" as declarações do ministro Mariano Gago sobre as ordens profissionais.
Mas, os principais visados também reagem: Pedro Nunes afirmou achar "absolutamente lamentáveis" as declarações do ministro.
Mariano Gago tem toda a razão quando diz isto: O ministro da Ciência condenou "a tolerância do parlamento relativamente à criação e funcionamento das ordens profissionais em Portugal", dizendo que tal gera "um condicionamento do mercado de trabalho". "Com toda a franqueza, este é um dos fenómenos mais extraordinários que ocorre neste país. A complacência, a cedência corporativa a quem chateia o parlamento com o argumento de que não se pretende fechar o mercado de trabalho - que ideia! - e apenas se quer fazer deontologia, é absolutamente extraordinária".
O actual governo tem revelado uma inolvidável atracção pelo abismo, que conduzirá à próxima intervenção externa em Portugal, mas afinal ainda tem alguém que pontualmente vai mostrando lucidez. Aquilo que se passa na medicina é confrangedor, quando se quer fingir que há falta de médicos (quando há excesso de médicos nos grandes hospitais centrais), ou quando se impede a abertura de mais vagas nas universidades públicas, para proteger os interesses instalados, com o falso argumento de protecção da qualidade da profissão.
Alguém ouviu falar de desemprego médico? Nós, não.