Wednesday, March 17, 2010

Orwellianos

George Orwell, jornalista e romancista britânico, ficou conhecido por um manifesto contra o autoritarismo, o 1984, e por uma sátira à tirania, o Triunfo dos porcos.

Orwell foi um visionário que soube ler bem a sociedade da sua época, mas também a sociedade humana, que persiste e persistirá. Entre outros, Orwell deixa-nos esta herança de liberdade:
  1. Todos os animais são iguais.
  2. Todos os animais são iguais mas alguns são mais que outros.

Agora, muitas situações vivemos, decalcadas da visão de Orwell.

Repare-se nesta: A alta comissária da Saúde propôs hoje um regime de excepção para o sistema de reforma de médicos e enfermeiros.

E porquê esta sugestão? Por isto: O Governo anunciou a antecipação do aumento da idade da reforma ao abrigo de um plano de convergência (previsto para terminar no final de 2014 mas que o Executivo quer antecipar para 2012/2013): este ano é permitido a reforma com 62 anos e meio de idade e 25 anos de serviço; de acordo com as novas medidas a reforma apenas é permitida aos 65 anos.

Então, a Senhora Alta Comissária da Saúde quer algumas excepções: Temendo uma corrida em massa às reformas, Maria do Céu Machado aponta um regime que excepcionalmente garanta a estes profissionais que, caso se mantenham ao serviço, dentro de alguns anos encontrarão as condições de reforma que agora cessam para a generalidade dos trabalhadores.

E nós? Os outros? Os empregados de mesa? Os pedreiros? Os advogados? Os economistas? Os professores? As empregadas de limpeza? Será que toda esta gente não é necessária? Será que toda esta gente não pode esperar por se reformar aos 67 anos (como se alvitra em Espanha), ou quem sabe aos 70 ou 75 anos?

Só que, para a Dra. Maria do Céu Machado, isto já não é um problema: Outra preocupação da Organização Mundial da Saúde tem a ver com os recursos humanos. No caso dos médicos, diz Jeremy Veillard, o número até é razoável, mas estão mal distribuídos. O mesmo acontece com os enfermeiros, mas, neste caso, a OMS diz que o actual número de enfermeiros fica aquém das necessidades do país.

É que não há falta de médicos, repetimos nós até à exaustão. Há médicos a mais nos hospitais de Lisboa, Porto e Coimbra. Há médicos a menos em Alcoutim, Ferreira do Zezere ou Penedono! Porque será, Senhora Dra. Maria do Céu Machado?

Os advogados que não tenham trabalho em Lisboa, tal como muitos médicos que pululam nos hospitais da capital, têm que procurá-lo por outras paragens. Os médicos continuam a pulular pelos hospitais das grandes cidades. Orwell explicou bem, porque é que isto acontece.