Monday, March 01, 2010

As negociatas público-privadas

Sabemos que o Estado não quer adaptar-se aos cidadãos. Não quer, porque quem está no Estado não entende que está a servir clientes, antes entende que está a servir utentes. E os utentes não têm direito a reclamar. Como tal, comem o que há.

Perante este cenário, vários governos (o actual e vários anteriores) decidiram manter muita estrutura do Estado, que não conseguem legalmente encerrar, e abrem em simultâneo infraestrtuturas privadas. Duplas estruturas, múltiplos custos. Até que o contribuinte aguente.

Em Cascais, abriu um novo hospital, que resulta de uma parceria entre o Estado e os HPP (braço da saúde, da Caixa Geral de Depósitos, banco do Estado!). Nesta parceria público-público, passam-se coisas estranhas, como estas:
  • O novo hospital inaugurada há uma semana, em Alcabideche, vai absorver utentes de oito freguesias de Sintra, mas apenas nas três áreas em que não havia qualquer dificuldade de resposta (no Hospital Amadora-Sintra): ginecologia, obstetrícia e pediatria.
  • O administrador (do Hospital Amadora-Sintra) adianta que em 2009 houve 4020 crianças nascidas no Amadora-Sintra. Deste total, 750 vão ser desviadas para o novo hospital de Cascais. "Vamos ficar com 3250 partos por ano. O problema é que perdemos escala, mas não o suficiente para reduzir as equipas que estão de urgência. Portanto, cada parto ficará mais caro. Aumenta o custo de produção", explica.
  • As estimativas da administração de Cascais - gerida em Parceria Público Privada pela HPP Saúde - é duplicar estes mil partos, chegando aos 1900/2000 por ano.
  • No dia da inauguração do hospital de Cascais, o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara, comentou a decisão afirmando: "É evidente que o novo hospital é uma parceria público privada e, sendo assim, objectivamente teve que ir buscar mecanismos de financiamento." E criticou a forma encontrada para o fazer. "Como não havia número de partos suficiente no hospital de Cascais, foram buscar três valências do Amadora-Sintra", disse, citado pela Lusa.
  • "Uma grávida que parta uma perna vai para o Amadora-Sintra, mas para a consulta e avaliação do feto vai ao hospital de Cascais", exemplificou ainda o presidente da autarquia Fernando Seara.

Por que raio, os gestores públicos conseguem fazer sempre "borrada"? Ou será que não é "borrada", mas antes estes pretensos "disparates" têm uma finalidade lucrativa para alguém?