Estamos fartos, mesmo muito fartos, da história de que há falta de médicos em Portugal. Aliás, esta história já vai em dezenas de anos, e mesmo apesar de: 1) terem aumentado as vagas em Faculdades de Medicina, quer através da existência de mais Faculdades, quer através da abertura de mais vagas; 2) ter aumentado o número de portugueses a cursarem medicina no estrangeiro; 3) ter aumentado o número de médicos estrangeiros em Portugal!
Há algo de muito mal contado, até porque nós sabemos que existem países na União Europeia (não falamos da África Sub-Sahariana) que têm um valor de médicos por 1.000 habitantes idêntico ou inferior ao de Portugal.
Mas, como em muitos sectores da sociedade portuguesa, a vergonha não existe, volta-se sempre a argumentações estafadas. Vejamos estas:
- O número de médicos de família é "insuficiente" para suportar a reforma dos cuidados de saúde primários em curso, uma escassez que leva um grupo de peritos a defender um "plano de contingência".
- O alerta e a sugestão constam de um documento elaborado por um grupo de trabalho da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e que será apresentado quarta-feira, em Lisboa.
- Concluem os peritos que "a evolução do número de profissionais nesta especialidade, entre 2008 e 2020, é negativa (-3 por cento)".
- No documento prevê-se que, dos médicos em exercício no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2007, 8 190 se reformem até 2020, correspondendo a 35,2 por cento do total dos profissionais.
- Por outro lado, acrescenta, "é previsível que, entre 2010 e 2020, concluam os respectivos internatos cerca de 9 000 novos especialistas, dos quais cerca de 3 000 novos médicos de família".
- O peso das saídas é, contudo, diverso nas diferentes regiões segundo a tipologia de carreira profissional considerada: no Alentejo e no Algarve as saídas incidem predominantemente sobre os profissionais afectos à carreira médica de clínica geral, enquanto em Lisboa e Vale do Tejo incidem sobretudo sobre a carreira médica hospitalar.
Estes Senhores Peritos da ARSLVT ainda não perceberam o mundo em que vivemos. Conseguem imaginar que a evolução de médicos entre 2008 e 2020 vai ser negativa, em 3%! Não deve haver nenhum governo ou organização tão precisos e teóricos no mundo. Alguém imaginaria a importância do Google em 1997? Ou a importância do Twitter? Ou que os canais de televisão generalista estariam em grande parte à beira da falência em 2009?
Será para exercícios teóricos como este, que os portugueses pagam impostos? Planificar, sim. Mas, antes de mais, bom senso. Infelizmente, este tipo de Senhores Peritos sujeitam-se às encomendas feitas!