Quando adquirimos um produto ou serviço, temos o direito de exigir apenas o que queremos. Nada mais. O nosso fornecedor, se não for monopolista, tem que se adaptar.
Na saúde, nem sempre é assim. A saúde trata de pessoas, de dores, de preconceitos, de beleza, de tantas outras coisas.
Tudo isto, a propósito de cesarianas e do direito das mulheres a pedirem o parto através de cesariana. Houve um parecer que apoia este direito da mulher: proposta da Associação Portuguesa de Bioética, cujo presidente, Rui Nunes, defendeu hoje que as mulheres devem ter o direito no Serviço Nacional de Saúde a escolher a sua via de parto preferencial.
Para variar, na saúde o cliente (que é quase sempre, o doente) parece que não tem direito a opinião. Vejamos o que diz a Ministra acerca do tal parecer: Ana Jorge já se pronunciou sobre o que veio a público este sábado, dizendo não ver vantagens no facto de a mulher poder escolher a forma de parto num hospital público. E o que diz o Bastonário da Ordem dos Médicos: O bastonário dos Médicos, Pedro Nunes, acredita também que as cesarianas devem sempre depender da opinião médica e não da decisão única da mulher.
Ora, nós nem somos mulheres, nem aspiramos alguma vez a ter uma criança, mas podemos imaginar-nos no lugar da mulher. Estamos perante questões pessoais e éticas, logo questões complicadas. Podem haver aqui dois problemas graves, escondidos atrás de um qualquer biombo financeiro:
- No sector privado, talvez por uma questão financeira, as mulheres escolhem muito a cesariana. Ou seja, o sector privado da saúde pretende explorar alguma fragilidade das mulheres.
- No sector público, nem se quer ouvir falar de "cesarianas a pedido" dado que o Estado já não aguenta tanta despesa, se não porquê que o Bastonário da Ordem dos Médicos diz isto (Pedro Nunes, para quem o parecer da Associação de Bioética “não ajuda à resolução dos problemas do país”) ?