Saturday, February 09, 2008

Os procedimentos de gestão na saúde

Desconfiamos profundamente da maior parte da informação que o Ministério da Saúde vai dando sobre as causas de morte em Portugal. Desconfiamos, não porque achamos que as pessoas que lá trabalham sejam incompetentes. Desconfiamos porque já vivemos na pele, situações em que, por exemplo, no registo do óbito se coloca muitas vezes uma das possíveis causas de morte, e apenas porque é um procedimento obrigatório colocar lá qualquer coisa.

Este exercício de se saber "porque morrem as pessoas" é extraordináriamente importante para poder prevenir a morte de outros que possam padecer dos mesmos males. Mas adiante, vamos olhar agora para a informação de gestão sobre os vivos, que estão nas urgências, e que podem ter um AVC ou um enfarte:
  • Pela primeira vez, o Ministério da Saúde dispõe de indicadores que lhe permitem perceber, quase ao milímetro, como funcionam as urgências. E identificar problemas que necessitam de intervenção imediata.
  • Há indicadores preocupantes, pelo menos à vista desarmada. Um exemplo: de acordo com os dados que constam do relatório com o último ponto da situação (entre Setembro e Novembro de 2007) de 26 serviços urgência do SNS já informatizados, na maior parte das urgências analisadas um doente com um enfarte agudo de miocárdio aguarda mais de uma hora entre o registo administrativo e a realização do primeiro electrocardiograma.
  • As recomendações clínicas publicadas em 2007 pela Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares indicam um tempo "ideal" de 10 minutos.
  • Também o tempo médio de espera entre o registo administrativo e a realização do primeiro TAC crânio-encefálico nos casos de acidentes vasculares cerebrais (AVC) parece ser excessivo - superior a quatro horas em seis hospitais. Há até um onde a demora ultrapassa nove horas.

Nada de surpreendente, infelizmente. Mas, felizmente que ainda existem pessoas que pensam em Portugal:

  • Mais uma vez, os peritos alegam que pode haver um problema de registos, mas Seabra Gomes defende que isto é "inaceitável" e que "é necessário que os hospitais se organizem".

Ora, Dr. Seabra Gomes tocou numa ferida, infelizmente, sem cura.

Post Scriptum: há pessoas que pensam que a informática resolve tudo. A informática só faz aquilo que as pessoas querem que faça. Nada mais. É que gestão da informação não é o mesmo que informática!