Há bastantes anos que se antevia a decadência e até a morte do chamado Serviço Nacional de Saúde. Desleixe no controlo de pessoal. Acumulação de pessoal a mais. Angariação sucessiva de outsourcings, mantendo toda a gente interna. Descontrolo da factura dos medicamentos, quer em hospitais, quer em farmácias. Mistificação permanente de factos, como seja a existencia de médicos a mais, tapada pelo amiguismo dos lobbies. Administradores hospitalares sem qualquer qualificação de gestão.
Apenas Correia de Campos percebeu que o fim estaria á vista. Apenas Correia de Campos tentou travar a hecatombe. Contudo, um conjunto de gente com responsabilidades na administração hospitalar, no ministério da sáude ou na direcção geral da saúde, foi conivente com actos sucessivos de gestão danosa. Agora, assemelham-se a clamar, esquecendo-se das suas responsabilidades.
Clamam agora, depois de terem contribuído para a devastação e queda do SNS:
- Crise & saúde: um país em sofrimento.
- Em Portugal, o programa acordado com a Troika não implica uma reforma do sistema de saúde, mas aponta para um vasto conjunto de medidas de racionalização e melhoria da eficiência a vários níveis do sistema.
- Entre os três países com MdE com a Troika, Portugal é o país com um sistema de saúde mais bem estruturado e pior financiado (em termos de gastos per capita em cuidados de saúde). Também revela menor grau de racionalidade na utilização dos seus recursos financeiros, humanos e tecnológicos do que a Irlanda, e maior do que a Grécia.
- Os múltiplos apoios recebidos da UE durante este período e o endividamento de sectores público e privado não proporcionaram investimentos de que resultasse uma economia mais competitiva (suficientemente capaz de produzir bens transacionáveis exportáveis) e uma sociedade mais justa.
Muitas pessoas que realizaram o Relatório da Primavera - 2012, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, ocuparam múltiplos cargos na administração pública, nos hospitais públicos, no sector privado, e vêm agora dizer que Portugal não aplicou devidamente os imensos fundos que a União Europeia lhe concedeu? De quem será a culpa? Do contribuinte holandês e belga? Do contribuinte português? Será que se vai culpar só o Dr. Mário Soares, o Dr. Jorge Sampaio e o Prof. Cavaco Silva? E todos os altos quadros da administração pública após a entrada na UE, em 1986, o que estiveram lá a fazer?
Lágrimas de crocodilo, apenas. Coitados dos portugueses trabalhadores e contribuintes, que ainda têm que aguentar pseudo-élites irresponsáveis.