Vivemos num país ultra-endividado, apesar das aparências e dos actos de negação. O Estado está endividado. As empresas e as famílias estão endividados. E os sinais estão por todo o lado. Veja-se o que se passa no sector da saúde:
- Segundo os dados mais recentes da Apifarma, as dívidas dos hospitais ascendiam, em finais de Julho, a 929 milhões de euros, tendo subido ao ritmo de dois milhões por dia.
- “O Ministério da Saúde rejeita os valores tornados públicos pela Apifarma, que não correspondem aos valores apurados pelas diversas instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
- A Autoridade da Concorrência (AdC) decidiu abrir uma investigação à associação que representa os laboratórios farmacêuticos por indícios de violação da lei da concorrência. Em causa está a decisão tomada pelas farmacêuticas de se juntarem, através da associação do sector, para cobrar aos hospitais juros pelo atraso no pagamento dos medicamentos que consomem.
- O Ministério da Saúde (MS) vendeu quatro hospitais de Lisboa a uma empresa do Estado, por 111,5 milhões de euros, dos quais foram usados 75 milhões para aumentar o capital de 18 hospitais EPE (Empresas Públicas Empresariais) e fazer face às suas dívidas. Entre as unidades vendidas, os hospitais de Santa Marta, São José e Capuchos vão ser integrados no novo Hospital de Todos os Santos, que deve abrir em 2013.
- Mais apoios sociais e transferências para a saúde explicam o aumento de 3,8% da despesa do Estado. Um aumento superior à subida de 3,6% da receita. A diferença entre os dois mostra um défice de 8,9 milhões de euros, mais 347,1 milhões face ao período Janeiro-Julho de 2009.
- No final de 2009 as dívidas a fornecedores por parte das instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ascenderam a 749 milhões de euros. No topo da tabela está a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte), que em 31 de Dezembro do ano passado registava uma dívida de 265 milhões de euros. Em segundo lugar, surgia a Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) com 214,2 milhões, seguida da ARS Centro (78,3 milhões), Alentejo (15,6) e Algarve (14, 5 milhões de euros). No total, as cinco ARS acumularam quase 600 milhões de euros de dívidas aos fornecedores. Mais 452,7 milhões de euros do que vinte hospitais em conjunto.
Resumindo e concluindo: a) os hospitais devem muito dinheiro, em particular, à Indústria Farmacêutica; b) os órgãos do Ministério da Saúde (em particular, as ARS's) devem muito dinheiro aos hospitais; c) o Estado consegue assim maquilhar as contas do déficit que apresenta a Bruxelas.
Engenharia financeira. Ou se quiserem, muita contabilidade criativa. Até quando?