- Manuel Antunes “dissecou” o Serviço Nacional de Saúde, a convite da Confraria da Chanfana, em mais um jantar temático, realizado na noite de sexta-feira, em Vila Nova de Poiares. O director do Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) deu a conhecer «o olhar de quem vive por dentro», que tem um a vivência inteiramente dedicada, nos últimos 22 anos, ao serviço da saúde pública. Com uma média de trabalho de 12 horas/dia, orgulha-se de não ter listas de espera, e aponta o seu olhar crítico em todas as direcções.
- «A saúde não tem preço, mas tem custos», afirma, e não tem dúvidas em defender a necessidade explícita do doente conhecer os custos do seu tratamento. Isto porque, em seu entender, por vezes de assiste a um «consumo exagerado de um bem porque não é pago» e isso «também é um desperdício». Como tal, e no que aos cuidados de saúde diz respeito, importa “cuidar”, fazer contas e aplicar medidas de gestão efectivas e eficazes, que passam, também, por consciencializar os cidadãos/utentes desses mesmos custos.
- Manuel Antunes apontou as operações que efectua e que custam ao Estado entre 10 a 12 mil euros. «Se pedisse à maior parte das pessoas que pagassem mil euros, certamente o fariam», aventou, sublinhando, muito embora, a necessidade de «salvaguardar e garantir a prestação de cuidados de saúde àqueles que genuinamente os não podem pagar». Mas afirma, não são todos os que se encontram nesse registo, tanto mais que os números apontam para a existência de 20 por cento de pobres em Portugal, muito abaixo dos «60 por cento que não pagam taxas moderadoras».
Pois é, chegamos sempre à mesma conclusão: a maioria dos portugueses contribui para o bolo, mas há definitivamente muito comedor de chanfana, que não a paga.
Felizmente que há médicos como o Professor Manuel Antunes, que para além do exercício exemplar da medicina, têm sensibilidade para a sua gestão:
- dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), de acordo com os quais, em 2009, as despesas da saúde foram 10,3 por cento do PIB, um valor acima da média europeia, disse, que está nos 8,4 por cento.
- «O orçamento do Ministério da Saúde mais que quintuplicou desde 1991 para 2009 e em 2010 são quase nove mil milhões de euros, pouco mais de metade dos quais gastos com pessoal».
Obviamente que a "parede" está próxima, porque os "especuladores financeiros" que sustentam a enorme dívida da República e da banca, não vão permitir este "fandango":
- «óbvio que o Orçamento de Estado para despesas de saúde não pode continuar a aumentar».
- HUC, onde trabalham diariamente seis mil pessoas (entre funcionários e contratados em regime de outsourcing): «Já não digo que se possa fazer com metade, mas pelos menos com dois terços», advogou.
- «Actualmente é quase impossível gerir o SNS numa perspectiva eficiente», afirma, crítico, sublinhando que a terapêutica que “prescreve” «vai doer», apontando a «lógica despesista», a «gestão ineficiente», os «interesses corporativos» e a «inércia relativamente às reformas».
- Defensor de «reformas progressivas», que nos «últimos 10/15 anos os sucessivos governos» não fizeram, Manuel Antunes defende uma diferenciação «rigorosa das fronteiras entre o sector público e o sector privado, mantendo, inclusive, pontes entre os seus sectores, mas sem permitir promiscuidades».
Ao contrário do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças que querem apenas arranjar dinheiro para suportar "penduras", através dos que trabalham e pagam impostos, os verdadeiros patriotas, são pessoas como o Professor Manuel Antunes, que querem tirar da mesa da chanfana, os comedores corporativos, que nada acrescentam e que são autênticos penduras nas almoçaradas!
Post Scriptum: Seria curioso ouvir a argumentação do Senhor Presidente dos HUC, Professor Fernando Regateiro, perante tal afirmação do Professor Manuel Antunes.