Está aberta a caixa de Pandora no litígio entre os cidadãos vítimas da incúria, da negligência e da falta de qualidade na prestação de cuidados de saúde, face ao Estado e aos prestadores privados de cuidados de saúde. E porquê? Simplesmente por isto: Walter Lago Bom, o doente que perdeu a visão nos dois olhos na sequência de um tratamento oftalmológico no Hospital de Santa Maria, poderá vir a receber 246 mil euros.
Mas, antes, queremos dizer que tinhamos grande suspeição sobre a Comissão nomeada pelo Hospital de Santa Maria, tendo em vista negociar indemnizações com as vítimas. Contudo, e perante o que aqui lemos, parece-nos que foi feita justiça, apesar de os danos causados serem irreparáveis.
Mas, porque é que então se abriu a caixa de Pandora? Apenas, porque se criou uma "referência", que vai valer, daqui em diante, para o Hospital de Santa Maria, para os Hospitais da Universidade de Coimbra, ou para os privados Hospitais da Luz ou da CUF.
Senhores accionistas dos hospitais (nomeadamente, o Estado), preparem-se para abrir os cordões á bolsa, pois se "dois olhos podem valer 246 mil euros, quanto poderá valer uma vida?", ou se quiserem, "quanto poderá valer a vida de um colunável que é vítima de má prestação de cuidados de saúde?". Não começarão os advogados recém-licenciados a prepararem-se para irem para a porta dos hospitais, em conjunto com um jornalista de um canal de televisão generalista, à espera de mais uma vítima da incúria ou da negligência hospitalar? Arriscamos, que todos os dias devem existir mais umas vítimas, em vários hospitais do país!