Thursday, February 25, 2010

A morte lenta do SNS

Não fazemos a apologia da desgraça. Não pactuamos com situações de apodrecimento crescente. Abominamos a morte lenta. E o SNS está em morte lenta, ou se calhar, cada vez mais acelerada. Os gritos de alguém que está no dia-a-dia de um dos maiores hospitais do país:
  • Os novos modelos de gestão – entidade pública empresarial (EPE) – dos hospitais deram, no entender de Carlos Costa Almeida, «primazia à gestão administrativa» em detrimento da parte clínica, com impactos negativos na qualidade dos serviços e também nos custos.
  • no ano passado a saúde em Portugal «teve 1.500 milhões de euros de prejuízos, mais 30 por cento do que em 2008» e que o país ficou colocado em 27.º lugar a nível mundial.
  • Para o director do Serviço de Cirurgia do CHC, os responsáveis da saúde «ainda não perceberam que é a parte clínica que justifica a existência do hospital e que os hospitais existem para tratar doentes e não para serem administrados». Costa Almeida defende a colocação do médico e da equipa produtiva no centro do sistema e o doente como objecto do mesmo.
  • «A nomeação de chefes e directores de confiança política levou ao desinteresse ou mesmo ao afastamento de alguns médicos mais diferenciados. As pessoas saem porque estão constantemente a ser ultrapassadas por quem sabe menos», declarou, lembrando que a própria ministra da Saúde «já admitiu esta saída de profissionais bem preparados dos hospitais públicos, nos últimos anos».
  • A quem interessa, então, esta situação? Para Costa Almeida, «às administrações dos hospitais - que podem contratar e “descontratar” com facilidade, sem ter de se preocupar com o grau profissional e, portanto, mais barato» -, interessa aos «amigos nomeados» e «à classe política».
  • Para o médico o desperdício estará mais na área administrativa - «onde existiam três administradores, existem hoje 36» - do que na clínica.

Há, no entanto, um aspecto de discórdia absoluta com o Dr. Costa Almeida, que é o facto do doente ser o centro da prestação de cuidados de saúde e não as equipas médicas. Sem doentes, não há hospitais.