Retratos da vida de um SNS:
- Nos últimos anos, milhares de médicos têm saído dos serviços públicos. Mas ninguém sabe ao certo quantos. Nem a Ordem, nem o Ministério. Sabe-se que são muitos e que vão sobretudo para um sector privado em expansão e que oferecerá melhores condições de investigação e médicas.
- A Lusa tentou apurar junto do Ministério da Saúde quantos médicos deixaram o SNS nos últimos tempos, mas essa contabilidade ainda não está feita. Segundo as contas de António Correia de Campos, ex-ministro da Saúde e antecessor da actual ministra, Ana Jorge, só no ano passado foram mais de mil os clínicos que deixaram o serviço público, metade dos quais directamente para o sector privado.
- Sobre as medidas que a tutela conta levar a cabo para resolver a carência de médicos nos serviços públicos de saúde, fonte do gabinete de Ana Jorge remeteu o anúncio das mesmas para quando for «oportuno».
- João, obstetra do Hospital S. Francisco Xavier, onde ajudou a nascer mais de mil crianças, já não acredita. Está desiludido. E decidiu que a sua vida «tem de mudar» e pediu a rescisão do Contrato de Provimento Administrativo que vem renovando há nove anos.
- Sem hipóteses de progressão na carreira, a ganhar cerca de 2.000 euros mensais por 47 horas semanais, João tem assistido à saída massiva dos clínicos do seu serviço neste hospital, que inclusive encerrou as portas no final do mês passado por falta de profissionais.
- Faltam médicos, os que restam estão desiludidos e reina a desarticulação entre as equipas, principalmente desde que as administrações compram serviços a médicos que ganham por hora muito mais que os profissionais dos hospitais.
- O aumento dos tempos de espera dos pacientes - como acontece na Maternidade Alfredo da Costa, onde a falta de médicos tem vindo a agravar-se - é outra das consequências desta situação e objecto do crescimento de queixas das utentes, como disse à Lusa a directora do serviço de urgência desta instituição.
Para aumentar a confusão, chuta-se com a barriga:
- o Ministério da Saúde revela que a Administração Central do Sistema de Saúde I.P. e os Serviços Médicos Cubanos concretizaram o protocolo que permite aos médicos deste país exercer no Serviço Nacional de Saúde português "durante três anos".
Enquanto outros vêem o seu pedestal ameaçado:
- Os estudantes de medicina consideram que a "importação" de médicos estrangeiros, designadamente da América Latina, deve ter prazo limitado de três anos.
A propósito, seria interessante saber qual foi o formato contratual estabelecido entre o Ministério da Saúde de Portugal, e os Serviços Médicos de Cuba. Será que o referido contrato prevê o pagamento a cada médico cubano de apenas 15% do valor que o Estado de Portugal paga aos Serviços Médicos de Cuba? Se for verdade, não estaremos perante uma violação de direitos humanos?