Sunday, September 20, 2009

Médicos desencadeiam a combustão do SNS

Sem médicos não há sistema de saúde. Sem enfermeiros ou farmacêuticos, também não, mas a importância mediática e funcional dos médicos é incontornável. Esta situação aplica-se a Portugal e aos EUA (aqui, os médicos são também uma parte determinante na discussão do "universal healthcare coverage" de Barack Obama).

A fuga de médicos do SNS para o sector privado é imparável:
  1. Os dois maiores hospitais, Luz e Arrábida, empregam "cerca de 800 médicos. Calculamos que 70% ([cerca de 560] dos que lá trabalham estão em exclusivo". As outras unidades da ESS, mais pequenas, têm metade dos médicos em exclusividade.
  2. Na José de Mello Saúde a situação repete-se. Em 2001, a Cuf Descobertas tinha apenas três médicos vinculados. "Hoje temos 62 em exclusivo", refere. No grupo trabalham já 110 médicos a tempo inteiro, correspondentes a 30% do total, segundo José Carlos Lopes Martins, administrador do grupo.
  3. Nos Hospitais Privados de Portugal (HPP), a relação é a mesma. "Já temos 800 médicos a trabalhar connosco, quando tínhamos cerca de 450 há ano e meio. A maioria continua a trabalhar noutro sítio, especialmente no SNS. Mas os casos de exclusividade são cada vez mais".

Nada que nos surpreenda. O que nos surpreende é que existam médicos que aceitam o SNS, onde têm "emprego", mas não têm capacidade de desenvolvimento de carreira. Naturalmente que o sector privado de saúde é mais exigente, e por isso mesmo, mais trabalhoso.

Curiosamente, quem dirige o sector privado da saúde refere que as condições monetárias não constituem o único atractivo para atrair bons profissionais:

  • "O salário não é nem de perto nem de longe o mais importante. Um médico raramente decide ficar connosco pela questão monetária", refere Isabel Vaz. Apesar de ser o factor habitualmente mais referido, Isabel Vaz enumera outros mais relevantes: "perguntam-nos quais os profissionais que lá trabalham, as condições do bloco, as tecnologias e equipamentos disponíveis, tipos de cirurgia que fazemos, se temos uma boa medicina interna e equipa de enfermagem", avança.
  • "Em cada uma das especialidades, a tecnologia disponível é a do estado da arte. Por vezes até temos equipamentos que não existem no público", diz Lopes Martins.

É importante estar atento às tendências de um mundo em mutação permanente.