Thursday, November 27, 2008

Corporações II

Se há sector que está infestado de corporações é o sector da saúde. Médicos, enfermeiros, administradores hospitalares, farmacêuticos, sindicatos, Ordens, Universidades e afins. Tanta gente á volta da mesma mesa. Esta mesa distribui cerca de 10% do PIB. É muito dinheiro.

Semana sim, semana não, lá vem o assunto de sempre: há falta de médicos. Nós continuamos a achar que não há falta de médicos em Portugal. Há muitos médicos em Lisboa, Porto e Coimbra. Há poucos médicos no Alentejo, no Algarve e na Guarda, por exemplo. Ou se quiserem, há muitos médicos nos grandes hospitais, enquanto os centros de saúde não têm os médicos necessários.

O Governo, este, o anterior e os próximos, lá vão tentando gerir as susceptibilidades dos grupos que estão sentados à mesa! Mas, normalmente os governos esquecem-se de quem mais precisa e verdadeiramente paga todo o sistema: o doente ou contribuinte.

Escusado será dizer que o sistema de saúde em Portugal não é centrado no Cliente, mas antes é focado nos que estão à mesa do orçamento.

Mas, concedemos que pontualmente o poder político lá vai fazendo qualquer coisa para não incomodar a malta da mesa. Vejamos esta tentativa:
  • O Governo publicou um despacho que cria vagas para «suprir necessidades» de clínicos no mapa do internato médico.

Qual é a resposta imediata de um dos mais pesados membros da mesa:

  • A Ordem dos Médicos (OM) já contestou o despacho, afirmando em comunicado que «a adopção de novas regras para vagas protocoladas, em momento posterior ao da divulgação das vagas existentes e a meio do procedimento concursal, configura uma clara violação dos princípios da confiança, transparência e da publicidade».

Mas, este membro da mesa não quer só comer, quer comer bem, se não repare-se no requinte do menu pedido:

  • A Ordem dos Médicos criticou também o «sucessivo adiamento» da publicação do mapa de vagas, a sua «distribuição geográfica assimétrica, com ausência de vagas em grandes hospitais».

Ou seja, se o Despacho do Ministério da Saúde viesse trazer mais vagas nos principais hospitais do país, o Despacho teria sido oportuno!

Como a gente os compreende. Comer, mas comer bem!