O Professor Correia de Campos, ex-Ministro da Saúde, por duas vezes, e ex-Secretário de Estado, gosta muito das luzes da ribalta. Ainda bem, pois sem este tipo de pessoas, a vida seria mais aborrecida. Não lhe bastou uma vida cheia de momentos de luzes e de foguetes. Continua com necessidade de se mostrar e de fazer estragos nos seus objectos de estimação.
- Era absolutamente necessário sair porque uma reforma só se faz se houver uma relação de confiança muito grande entre o líder da reforma e os seus beneficiários, os cidadãos. As minhas quotas de popularidade eram baixíssimas e não era esperável que recuperassem para níveis toleráveis, porque ainda havia problemas para resolver.
- Os médicos que ficam são tão bons como os veteranos. Reconheço que o ordenado de um médico num hospital é muito baixo e é compensado através de horas extraordinárias acriticamente atribuídas. Ia fazê-lo este ano, criando mecanismos para encontrar um modelo que não tenha que utilizar a ficção das horas extraordinárias, para pagar condignamente, com retribuições proporcionais ao desempenho.
- É o resultado da política de, ao longo de várias décadas, com cumplicidade visível da Ordem dos Médicos e que também cobre os políticos, se restringir o acesso às faculdades de Medicina. Isto é uma imoralidade. Não tolero lágrimas de crocodilo. Essas pessoas contribuíram activa ou passivamente para a situação actual. Lembra-se da argumentação? Não temos falta de médicos, estão é mal distribuídos. Durante anos a fio foi esta a retórica da OM.
- As PPP tinham que ser revistas e têm que ser revistas. Não é uma inversão completa do caminho. Não fui eu o autor da junção da gestão clínica com a construção. Mas achei que valia a pena fazer a experiência. Agora, olho para o tempo que demora, e isso [a gestão privada] torna o processo tão complexo, enquanto a construção é mais ou menos controlável... Acho que foi uma conclusão natural. Eu tinha dito (há um despacho escrito) desde logo que o Hospital Central do Algarve seria construído apenas em parceria infra-estrutural. Braga, Vila Franca, Cascais e Loures vinham do passado. Não houve alterações porque o Governo tinha que dar sinais de estabilidade. Foram desde o início intocáveis nesse modelo, aconteça o que acontecer, a menos que haja algum cataclismo.
Mas, Correia de Campos, para além daquela entrevista, vai também lançar um livro, para fazer render no próximo Natal:
- Num livro que vai lançar na segunda-feira, o ex-ministro da Saúde fala da sua experiência no cargo. Faz muitas críticas ao modo como funcionam as farmácias e o sector do medicamento, e explica, nomeadamente, que há consultores das farmacêuticas entre quem decide sobre as comparticipações do Estado aos medicamentos.
- Nas comissões que fazem a avaliação das comparticipações do Estado para cada medicamento alguns são consultores de empresas farmacêuticas e seria melhor ir buscá-los ao estrangeiro.
- A associação Nacional de Farmácias é apontada como sendo, de longe, o actor mais poderoso que teve de enfrentar e acrescenta que só não conseguiu fazer mais neste sector, porque as farmácias actuam como um cartel.
Comentários nossos:
- Gerir a saúde, em qualquer país do mundo, é tarefa hercúlea.
- O Professor Correia de Campos esteve 5 anos no comando da saúde estatal (2 anos com António Guterres, 3 anos com José Sócrates) e queixa-se de tanta gente e gosta tanto de alardear os seus feitos e capacidades. Porque será?
- Vem agora falar da existência de cartéis e conluios, e o que fez o Ministro da Saúde para atenuar ou contrariar tais ILEGALIDADES? É que os carteis são proibidos por Lei. E os conluios no sector público são IMORAIS, pois penalizam os contribuintes.
- O Professor Correia de Campos é frontal. Isto é positivo, pois não gostamos de gente dissimulada. Mas, bem que teve 5 anos (é muito tempo), para enfrentar e afrontar estes monstros de que fala, e vem agora fazer acusações em várias direcções. E antes, porque não denunciou os pretensos "cartéis" e "conluios"?
- Os atingidos (Ordem dos Médicos, Infarmed e afins) se não reagirem às acusações explícitas e implicitas, do ex-Ministro da Saúde, só vêm confirmar o que ele afirma.