É sempre com agrado que lemos idéias de pessoas inteligentes e sensatas. O Professor João Lobo Antunes dá uma entrevista aqui, na qual deixa um conjunto de estados de alma preocupantes, vejamos:
- Há uma crise gravíssima de valores e uma crise daquilo que é o cimento de uma sociedade contemporânea: a confiança. Nós precisamos de ter confiança que o contador de electricidade conta como deve ser, que as pessoas não estão a fazer batota num jogo de futebol, que os concursos públicos são limpos, que não há interesses ocultos. Estamos numa sociedade com um nível de complexidade tal que temos de confiar nas pessoas e nas instituições públicas e privadas. Quando há uma crise de confiança, por exemplo na justiça, as pessoas vivem desconfortáveis.
- o pessimismo é uma profecia que se cumpre. Isto acontece a vários níveis. Em medicina, quando dizemos que o prognóstico é irremediável, toda a gente desiste – incluindo o próprio médico. Mas o conhecimento, ao contrário do que se possa pensar, veio trazer muito mais incerteza.
- É óbvio que há claras injustiças. Quem pode pagar deveria contribuir. A questão fundamental é tentar garantir a acessibilidade com equidade. Que a pessoa não fique ali eternamente à espera das consultas ou de tratamentos de que precisa. Obviamente que isto é um desiderato que tem um claríssimo fundamento moral – que não é de esquerda nem de direita.
- Há um problema geográfico, em relação aos locais para onde os médicos devem ir. É preciso médicos no interior. E há um problema na escolha das especialidades: os jovens médicos querem especialidades mais tecnológicas, com maior prestígio social, embora não haja nada mais nobre do que a figura do médico de família.
Muitas incertezas e com elas, muita insatisfação e falta de confiança. Melhores dias virão, assim o esperamos.