Tuesday, March 25, 2008

Verdades na saúde que doem

A saúde é talvez o sector mais complexo na generalidade dos países. Apenas por uma razão: existe uma sensibilidade crescente de que a qualidade de vida só pode aumentar (isto é, ninguém aceita sofrer, ninguém aceita morrer jovem, ninguém aceita a inferioridade física ou mental). Este problema existe nas sociedades mais avançadas, quer sejam do Norte e Centro da Europa, América do Norte ou Japão. E que fazer, perante tal ambição? Difícil tarefa, sobretudo em países com falta de recursos e problemas de organização, como é o caso de Portugal.

O Bastonário da Ordem dos Médicos, Dr. Pedro Nunes, representa a corporação profissional mais poderosa do país e, normalmente, não tem "falinhas mansas".

Vejamos algumas afirmações recentes do Dr. Pedro Nunes:
  • O bastonário da Ordem dos Médicos traça um panorama negro do serviço de saúde, onde identifica uma «total desarticulação» num sistema que «não tem outro remédio» senão pagar a determinados médicos especialistas o que estes exigem.
  • Pedro Nunes atribui a desarticulação do sistema a políticas que começaram quando António Correia de Campos foi ministro da Saúde durante o governo de António Guterres.
  • «A evolução foi sempre no sentido de criarmos o dito mercado: hospitais transformados em empresas, contratos individuais de trabalho», disse.
  • «Quem chega a uma urgência encontra médicos a ganhar 10 euros à hora, outros 18 e outros 100», o que «cria um enorme desconforto», pois «uma coisa é uma pessoa ganhar mais porque faz mais horas e outra é um médico com 30 anos de carreira ganhar pouco mais de 1.200 euros por mês e ao lado haver outro que ganha 60 mil», disse.
  • A responsabilidade recai sobre «alguém que se lembrou de retirar o défice dos hospitais do défice público, por causa dos célebres três por cento de Bruxelas, pegou nos hospitais e disse que deixavam de ser públicos e passavam a ser privados».
  • Culpas que não se ficam por aqui. «Se tivessem feito isto apenas nos hospitais, mas depois resolveram inventar a roda e encher os hospitais de gestores e administradores».
  • «Defendo uma remuneração básica justa e depois um suplemento para quem trabalhe mais, mas que não seja uma diferença tão grande que crie estes abismos que hoje estão a ser criados e que vão destruir o sistema», avisa.

Pois bem, Dr. Pedro Nunes, pelo menos não tem uma abordagem enfraquecida ou balofa, sobre um problema grave. Mas, Dr. Pedro Nunes, não me parece que a classe a que pertence se sinta bem num "formato tendencialmente igualitário". Isto é, na medicina há profissionais que são melhores e por isso têm que ser diferenciados.

Mas concedemos, que há um problema que se chama equidade. Até os Médicos, já se começam a preocupar com a equidade.

Nós diríamos que há um outro problema ainda mais grave na sociedade portuguesa, que é a falta de acesso às oportunidades. Os americanos chamam-lhe "dream". Nós portugueses costumamos dizer que "o Sol quando nasce é para todos". Aqui sim, Dr. Pedro Nunes, em Portugal o mérito não é reconhecido. Antes é reconhecida, a subserviência, a aquiescência e incentivada, por isso, a mediocridade.

Post Scriptum: não sabemos se há gestores a mais ou a menos nos hospitais portugueses; antes sabemos que há gestão de recursos a menos, com toda a certeza.