Já vimos escrevendo por aqui, que o Ministério da Saúde anda a fazer sucessivas mistificações. É fácil de as ver, sobretudo para quem percebe alguma coisa sobre gestão.
Claro que, quem tem o poder na mão, tem mais facilidade em fazer mistificação junto de uma comunicação social dócil (resumida a 4 ou 5 grupos de comunicação) e de jornalistas quase iliteratos.
Depois, os Deputados da nação evidenciam, com uma ou outra excepção, dois defeitos mortais: excessiva aquiescência perante os seus Chefes e incapacidade de análise de gestão.
Mas, de tempos a tempos, lá aparece uma ou outra entidade, mais abalizada e mais independente, como o Eurostat, o Tribunal de Contas ou o Provedor de Justiça, e vêm pôr o dedo na ferida. E a ferida começa a infectar! E na saúde, que é a principal fatia de gastos públicos, a infecção pode agravar!
Vejamos as primeiras cenas de um capítulo que vai ser longo:
- No final do ano passado, as dívidas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) atingiram os dois mil milhões de contos (serão mesmo contos? ou euros?), mais 40,9% do que os valores atingidos no final de 2005.
- Estes números constam de uma auditoria, feita pelo Tribunal de Contas, ao estado financeiro da Saúde pública, nos dois primeiros anos de Governo de José Sócrates e constituem um retrato devastador do sector.
- Nas conclusões da auditoria, que hoje chegaram ao Parlamento, o tribunal chama a atenção para o facto de a informação prestada pelo Ministério no âmbito desta auditoria poder não ser fiável.
- «As entidades com maior volume de créditos a receber eram, em 2006, os hospitais EPE, os quais registaram um decréscimo de 11,9%» em relação ao ano anterior. Também as dívidas destes hospitais atingiram os 846,5 milhões de euros, mais 52% do valor da dívida apurada em 2005».
- De uma maneira geral, e segundo o TC, a situação económica do SNS «agravou-se em 2006, tanto nos resultados operacionais como nos resultados líquidos».
Este agravamento é da ordem, respectivamente, dos 233% e 290%, respectivamente, quando comparados com os resultados apurados em 2005. - O Tribunal de Contas considera, finalmente, que a informação económica-financeira do SNS, quer relativa a 2005, quer a de 2006, «continua a não dar uma imagem verdadeira e apropriada da situação financeiras e dos resultados das entidades que integram o SNS».
É natural que o Professor Correia de Campos venha dizer que afinal não é bem assim, que os critérios são outros, que a leitura não é a adequada......e se for preciso até diz que os números dele é que estão certos, e que todas as outras Entidades não percebem nada do que é o SNS!
Pois, alguém vai pagar a grande mistificação. Nós até sabemos quem é. Infelizmente.
Post Scriptum Aliás, a vergonha é tal que se diz isto: O ministro da Saúde, Correia de Campos, em declarações à agência Lusa, não quis comentar o teor deste relatório, tendo, no entanto, dito estar «optimista face aos progressos na gestão financeira» do SNS.