Thursday, November 22, 2007

A verdade vem sempre ao de cima

Já vimos escrevendo por aqui, que o Ministério da Saúde anda a fazer sucessivas mistificações. É fácil de as ver, sobretudo para quem percebe alguma coisa sobre gestão.

Claro que, quem tem o poder na mão, tem mais facilidade em fazer mistificação junto de uma comunicação social dócil (resumida a 4 ou 5 grupos de comunicação) e de jornalistas quase iliteratos.

Depois, os Deputados da nação evidenciam, com uma ou outra excepção, dois defeitos mortais: excessiva aquiescência perante os seus Chefes e incapacidade de análise de gestão.

Mas, de tempos a tempos, lá aparece uma ou outra entidade, mais abalizada e mais independente, como o Eurostat, o Tribunal de Contas ou o Provedor de Justiça, e vêm pôr o dedo na ferida. E a ferida começa a infectar! E na saúde, que é a principal fatia de gastos públicos, a infecção pode agravar!

Vejamos as primeiras cenas de um capítulo que vai ser longo:
  1. No final do ano passado, as dívidas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) atingiram os dois mil milhões de contos (serão mesmo contos? ou euros?), mais 40,9% do que os valores atingidos no final de 2005.
  2. Estes números constam de uma auditoria, feita pelo Tribunal de Contas, ao estado financeiro da Saúde pública, nos dois primeiros anos de Governo de José Sócrates e constituem um retrato devastador do sector.
  3. Nas conclusões da auditoria, que hoje chegaram ao Parlamento, o tribunal chama a atenção para o facto de a informação prestada pelo Ministério no âmbito desta auditoria poder não ser fiável.
  4. «As entidades com maior volume de créditos a receber eram, em 2006, os hospitais EPE, os quais registaram um decréscimo de 11,9%» em relação ao ano anterior. Também as dívidas destes hospitais atingiram os 846,5 milhões de euros, mais 52% do valor da dívida apurada em 2005».
  5. De uma maneira geral, e segundo o TC, a situação económica do SNS «agravou-se em 2006, tanto nos resultados operacionais como nos resultados líquidos».
    Este agravamento é da ordem, respectivamente, dos 233% e 290%, respectivamente, quando comparados com os resultados apurados em 2005.
  6. O Tribunal de Contas considera, finalmente, que a informação económica-financeira do SNS, quer relativa a 2005, quer a de 2006, «continua a não dar uma imagem verdadeira e apropriada da situação financeiras e dos resultados das entidades que integram o SNS».

É natural que o Professor Correia de Campos venha dizer que afinal não é bem assim, que os critérios são outros, que a leitura não é a adequada......e se for preciso até diz que os números dele é que estão certos, e que todas as outras Entidades não percebem nada do que é o SNS!

Pois, alguém vai pagar a grande mistificação. Nós até sabemos quem é. Infelizmente.

Post Scriptum Aliás, a vergonha é tal que se diz isto: O ministro da Saúde, Correia de Campos, em declarações à agência Lusa, não quis comentar o teor deste relatório, tendo, no entanto, dito estar «optimista face aos progressos na gestão financeira» do SNS.