Portugal foi históricamente palco de luta entre corporações. Aliás, o Estado Novo chegou a ter o Ministério das Corporações. Claro está, que cada um deve saber organizar-se e defender-se. Mas, a sociedade também deve saber defender-se face a lobbies que fazem mais mal do que bem, pelo menos em relação aos outros!
Tudo isto, a propósito desta frase: Está a assistir a uma tentativa da ANF de verticalizar o sector do medicamento, de juntar ao facto de ser um monopólio da venda a retalho, de ser um parceiro incontornável e dominante do comércio grossista, agora também vai produzir medicamentos e quer, como se fosse a cereja em cima do bolo, ultrapassar as receitas dos médicos e dar aos doentes os medicamentos que lhe convém, com a alegação de que são mais baratos.
E quem diz aquilo? Só poderia ser um dos líderes de uma das maiores corporações do país: Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, acusa a Associação Nacional de Farmácias de estar a fazer uma guerra aos portugueses por causa da substituição das receitas.
De facto, a ANF é uma organização bem sucedida, na sequência da cooperação entre os seus membros, perante a falência de grande parte das farmácias nos idos de 1974/75. Mas, a ANF soube tão bem organizar-se que está de facto a ameaçar a sociedade em que vivemos, nomeadamente os contribuintes e os doentes em geral.
Reconhecemos, no entanto, que a ANF tem sido útil ao país e aos portugueses. Mas, quando as corporações falam mais alto do que a sociedade, começamos a chegar aos limites do intolerável.
Mas, o que falar da Ordem dos Médicos? Bem, é uma corporação que tem desempenhado bem o seu papel no ambito da boa formação dos médicos. Mas, a partir daí, o seu papel tem sido demoníaco. E porquê? Porque, directa ou indirectamente, a Ordem dos Médicos impediu a criação de novos cursos de medicina, ao ponto de ser necessária a importação de médicos estrangeiros. A Ordem dos Médicos olvida ou finge olvidar que muita formação dos médicos é suportada por outra corporação relevante, a indústria farmacêutica.
Apesar de tudo o Senhor Bastonário reconhece isto: E hoje a nível mundial, os reguladores éticos, como são as Ordens, e a própria indústria tende a acabar com isso. Não é proibir as instalações de um congresso. Se não for a indústria não são os Estados a fazê-lo e os médicos precisam de aprender. Agora pagar estadias de 15 dias ao Sol é irregular.
Já estamos habituados a guerras entre corporações, sobretudo em fases de previsível depressão económica. A crise pode ser boa, se os doentes tiverem que pagar menos pelos serviços que lhe são prestados, e simultaneamente, se os habituais maiores ganhadores, passarem a ganhar menos.