Em todas as sociedades há "vacas sagradas". Em Portugal, há imensas, apesar de ser um país predominantemente Católico!
Uma das "vacas sagradas" é sem dúvida uma frase que se vai ouvindo por aí, de que: a saúde não pode ser um negócio!
Ora, o Professor Pedro Pita Barros, Investigador de Economia da Saúde, explicita, e brilhantemente, que há muita gente a fazer negócio na saúde. Isto é, no limite pergunta-se se haverá alguém a trabalhar na saúde em Portugal, por mera atitude altruísta (retirando, porventura, o caso de Organizações de carácter religioso)!
- A saúde de cada um é pessoal e intransmissível. Não se compra nem se vende saúde. São os cuidados de saúde que constituem um negócio, definido como transacção mercantil entre partes. Basta olhar para a experiência pessoal de cada um. Cada medicamento foi inventado, produzido, recebeu autorizações técnicas para introdução no mercado, foi comercializado, os médicos informados da sua existência e vantagens, as farmácias abastecidas e o Estado decidiu sobre a sua comparticipação. Os agentes intervenientes neste processo olham para ele como um negócio. De forma similar, num consultório privado de um médico ou numa clínica, está-se a entrar num negócio: contra um pagamento, recebe-se a atenção e a expertise do médico na recomendação do que fazer. Mesmo quando recorre ao Serviço Nacional de Saúde, o cidadão é parte de um negócio: afinal, os cuidados que recebe serão pagos a quem os prestou.
- Dirão muitos que a principal diferença está em que o Serviço Nacional de Saúde não tem como objectivo o lucro. Na verdade, não estou tão certo. Vejamos com cuidado onde o procurar. Mais de 50% das despesas em cuidados de saúde constituem receitas de entidades privadas (contratadas pelo Serviço Nacional de Saúde). Estas últimas têm na sua grande maioria objectivos de criar excedente económico. Será lucro formal no caso de empresas, será rendimento no caso de médicos em medicina privada (por exemplo).
Para nós anda por aí uma "vaca" que não é sagrada, mas que é muito portuguesa: o cinismo!
Mas, afinal que mal tem o lucro, se houver satisfação dos vários "actores" das operações, e se houver concorrência sã?