Sunday, December 30, 2012

A imagem do declínio aprofundado

Quer se goste ou não, o nascimento é um símbolo positivo e de felicidade evidente. A morte é inevitável, e é também um símbolo de decadência. Portugal está decadente há bastante tempo, apenas por culpa própria, até nistoHouve mais 16 mil funerais do que partos só no primeiro semestre de 2012.

O povo e as élites estão imunes e desatentos: Aos défices financeiros Portugal soma défices demográficos consecutivos. Se considerarmos apenas os seis primeiros meses de 2012, morreram quase mais 16 mil pessoas do que as que nasceram em Portugal, o que se justifica em parte devido ao pico da mortalidade verificado em Fevereiro e Março. É muito? Para alguns especialistas, é demasiado. A manter-se a tendência, será "preocupante". Em 2011, o número de funerais suplantou em cerca de seis mil o total de partos, e nessa altura já soaram campainhas de alarme.

Como aqui se refere, este problema não se limita apenas à presente falência do Estado português: Cada ano que passa registam-se menos nascimentos em Portugal. Explicações simplistas e centradas no presente, que domina os debates da actualidade, dirão que isso se deve à crise. Mas apesar das circunstâncias actuais, este não é um fenómeno conjuntural. A descida é constante desde a década de 1980 e não foi invertida mesmo em períodos de melhoria das condições de vida da população.

Porque estará Portugal em processo de auto-destruição?

Saturday, December 22, 2012

Cada cirurgião faz em média uma cirurgia por semana

Portugal está em completo estado de catarse. Se calhar, poderá vir até a diluir-se. Se vier a acontecer, será por culpa dos portugueses, pertençam eles às élites de poder, sejam eles povo, apenas.

Isto são crimes contra uma pátria sem destino e sem vontade ou almaO presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João, no Porto, disse ontem à noite na TVI24 que em Portugal existem 3854 cirurgiões especialistas e que cada especialista em cirurgia, das várias especialidades que há, "faz em média uma cirurgia por semana, convencional".


Isto é aterrador, sobretudo para quem paga impostos: António Ferreira apresentou os seguintes números: "Nós, serviço nacional de saúde, fizemos em Portugal, em 2010, 196 675 cirurgias, em todas as especialidades. Temos em Portugal cirurgiões especialistas, não estou a falar dos internos de especialidade, que também trabalham nos hospitais, 3854. Se considerarmos um ano de 46 semanas isto dá um indicador que é que cada cirurgião especialista, das várias especialidades, faz em média uma cirurgia por semana, convencional".


Coitados dos portugueses que ainda remam contra a maré imensa de oportunistas e sugadores de um Estado falido.

Sunday, December 16, 2012

Farmácias em luto

Fazer dos outros parvos, foi sempre um dos desportos favoritos de uns quantos cidadãos portugueses. Depois de durante décadas, os detentores de farmácias enriquecerem quase todos, muito à custa de uma relação duradoura com o seu principal cliente, o Ministério da Saúde, de repente viram o seu maná ficar ameaçado porque Portugal faliu. Como Portugal faliu, o Ministério da Saúde deixou de poder ser bondoso para os proprietários de farmácias. Estes, como vingança, decidiram escrever por todo o Portugal, "farmácias em luto".

Há quem lhes chame espertos. Há quem lhes chame, "chicos". Nós rimo-nos, não porque a desgraça alheia nos dê prazer, mas porque o feitiço se pode virar contra o feiticeiroUma empresa detida em parte pela Associação Nacional de Farmácias é suspeita de exportação ilegal de medicamentos para vários países europeus, originando falhas no abastecimento às farmácias em Portugal.

Como o assunto é sério, pois a dívida do Estado português durará décadas a ser paga, é com absoluto desdém que assistimos ao dito luto. De luto estão os contribuintes que têm que aguentar a pilhagem fiscal em curso, muito por força da bondade do Estado durante décadas, sobretudo junto de uns quantos amigalhaços.

Thursday, December 13, 2012

O enfartamento


Um dos sinais de decadência de Portugal passou por uma visão ingénua da vida, em que se criou um imaginário de que os cidadãos tinham direito a tudo (saúde, educação, habitação, etc.), sem que tivessem que dispender recursos directos. Mais, nesse idealismo confrangedor, até se considerava que toda e qualquer parte do país, poderia e deveria ter uma rede de assistência pública, independentemente da sua dimensão social e económica.

O chamado Hospital do Médio Tejo, que resultou da fusão de 3 hospitais (Tomar, Torres Novas e Abrantes), foi um dos máximos expoentes da irracionalidade que varreu Portugal.

Agora, padece-se de enfartamentoO Centro Hospitalar do Médio Tejo, que engloba as unidades de Tomar, Abrantes e Torres Novas, bem como o hospital de Santarém fazem parte da lista dos 21 hospitais em risco de falência técnica no país.


Surprendido? Não. Apenas, nos espantamos de isto estar a acontecer só agora. Naturalmente que quando se fundiram os 3 hospitais, já eram sinais de clara hecatombe à vista.


E quando a cabeça não pensa, o corpo é que paga: Os dados são revelados hoje na edição do jornal Correio da Manhã que aponta para um prejuízo de 14,3 milhões de euros no Centro Hospitalar do Médio Tejo e 3,2 milhões de euros no hospital de Santarém, dados referentes a julho de 2012. Perante este estrangulamento financeiro nos hospitais em falência técnica verifica-se o cancelamento de cirurgias programadas e a suspensão de tratamentos a doentes crónicos.


Há um projecto para transformar a Maternidade Alfredo da Costa em Museu da Criança. Que ideias terão os políticos de serviço para vir a colocar nos hospitais falidos de Tomar, Torres Novas e Abrantes? Lojas do cidadão?

Sunday, December 09, 2012

O navio almirante adornou

Falar em SNS, gratuito e com uma oferta de serviço global, é uma miragem. Cada vez mais, o chamado SNS servirá, ainda que apenas numa relação de qualidade-preço. Isto é, atendendo a que ainda não se paga muito de cada vez que se vai a um hospital ou centro de saúde, públicos, o que se obtem de serviço não é mau.

Contudo, tem que se ponderar o que se paga em impostos. A falácia monumental de que "o SNS era gratuito", sempre se fundamentou na ideia de que "o Estado pagava". Ora, o Estado só pode pagar, o que recebe dos contribuintes.

Agora, o que se obtém do SNS é pouco, mas o que se paga em impostos e em taxas moderadoras é demasiado. Até o navio-almirante, o hospital universitário de Lisboa já está em falência técnicaO hospital de Santa Maria, em Lisboa, já esgotou a verba dada pelo Ministério da Saúde (290 milhões de euros) para o ano de 2012. Desde o mês de Outubro, o hospital só tem dinheiro para pagar salários e para despesas com a luz, água e comida.

A lógica dos Senhores administradores hospitalares, nunca foi a da gestão de uma conta de exploração. A lógica dos chamados administradores, sempre foi a de "gaste-se o que é preciso, independentemente dos custos". Naturalmente, que um dia se haveria de bater no fundo.

Curiosamente, a justificação que se dá para esta situação é igual a tantas outras do passado: Correia da Cunha explicou que o problema não é de má gestão, mas sim de subfinanciamento e de erros de cálculo. “Este ano o nosso orçamento foi reduzido em 56 milhões de euros com o pressuposto de que a actividade iria diminuir 20 a 30% com a abertura do hospital Beatriz Ângelo, em Loures, e isso não se verificou”.

Coitado de quem ainda paga impostos!

Post Scriptum: não há nenhum incentivo para se pagar impostos em Portugal.

Sunday, December 02, 2012

O polvo

Nos idos da década de oitenta, havia uma série de televisão italiana de nome "La piovra". Em Itália, país do Sol, da bela comida, do design e das ligações de la famiglia, nunca se conseguiram eliminar as ligações perigosas. Existiu a "operação mãos limpas"; existiu o herói Juíz António di Pietro; descobriu-se o que era a loja maçónica P2; foram assassinados muitos procuradores e polícias; mas, na Sícilia continuou a mandar a Cosa Nostra; e em Nápoles, mesmo com lixo espalhado por toda a cidade, a Camorra não arredou pé.

Em Portugal, país do Sol, da boa comida, do mar azul e de um certo neo-feudalismo, nunca se conseguem apanhar as ligações perigosas.

No sector do retalho dos medicamentos, as ligações são belíssimas: O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa está a analisar novos documentos sobre os negócios da Associação Nacional de Farmácias (ANF). Em causa estão suspeitas de alegados favores do Governo de José Sócrates à ANF, liderada por João Cordeiro em 2010.

A ligeireza e a auto-confiança é tão grande, que até se diz isto: João Cordeiro considerava que a então ministra da Saúde, Ana Jorge, "não percebia um corno" da questão dos preços dos medicamentos e que o seu secretário de EStado, Francisco Ramos, estava a atrasar o diploma.

Ainda há quem se questione, sobre as razões da falência de Portugal. Só não entende, quem é ingénuo ou tolo, ou ainda quem beneficia do neo-feudalismo.

Foi Você que assinou um documento solidário com as "farmácias em luto"?